Os contrastes de Orlandinho


Orlando Peixoto Pereira Filho, ou Orlandinho, prefeito de Cruz das Almas deixará o cargo em janeiro após oito anos. Engenheiro Agrônomo formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e com mestrado na Universidade de Santa Maria (Rio Grande do Sul), Orlandinho (PT) foi eleito pela primeira vez em 2004 com 56,09% dos votos. Em 2008 conquistou a reeleição ao ser lembrado nas urnas por 51,59% dos eleitores, contra 39,50% do segundo colocado, Dr. Jean (PMDB). Nos oito anos a frente da administração municipal, Orlandinho contribui para consolidar Cruz das Almas, como a segunda maior cidade do recôncavo sul, conquistando o slogan de cidade universitária e fazendo uma das festas de são João mais famosas de todo o Brasil. Mas, no apagar das luzes, Orlandinho sofre com duras críticas, principalmente, em relação a emprego e saúde no município, o que pode abalar a sua tentativa de eleger um sucessor para o cargo.

São João
Cruz das Almas sempre teve uma das festas de São João mais tradicionais do Brasil, atraindo turistas da Bahia e do Brasil. Mas, a fama atraiu também a concorrência e o município precisou reestruturar a sua festa para fazer frente a cidades como Amargosa, Cachoeira e Santo Antonio de Jesus. Muito da tradição do São João cruz-almense se deve a secular “Guerra de Espadas”. Bela, porém perigosa. A brincadeira atrai todos os anos centenas de guerreiros e o resultado são dezenas de feridos. Em 2011, essa história ganhou um capítulo polêmico  quando o ministério público proibiu a guerra de espadas e ordenou que quem desacatasse a ordem fosse imediatamente detido pela polícia. Em caráter de emergência, a câmara de vereadores aprovou uma lei liberando a brincadeira, mas, sem sucesso. Sob a ameaça de serem presos, alguns poucos espadeiros buscaram refúgio em áreas mais afastadas do centro para realizar os confrontos. Uma jornalista de Salvador, que cobria a guerra ‘clandestina’ acabou ferida, sem gravidade. Pelo menos dez pessoas foram encaminhadas para a delegacia por envolvimento com a queima de espadas. Para este ano, espera-se novo embate entre ministério público e sociedade.

Educação
Na educação, ponto positivo para o prefeito. Cruz das Almas virou referência na região no que se refere ao ensino superior. Em 2006, no maior trunfo da parceria com os governos estadual e federal, saiu de cena a desgastada Escola de Agronomia da Universidade Federal da Bahia (AGRUFBA) e entrou a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Segunda universidade federal do estado e com uma estrutura de dar inveja a qualquer centro educacional do país. Com a reitoria, prédios administrativos e doze cursos distribuídos em dois centros, a UFRB trouxe para Cruz das Almas uma população de quase 10 mil universitários e um novo slogan: “Cidade Universitária”. Instituições privadas como a Famam também contribuíram para esse crescimento.

Moradia
Outro quesito que avançou sob a batuta de Orlandinho. Depois da implantação da UFRB e da chegada de empresas nacionais e multinacionais, o setor de construção civil acabou valorizado. Cruz das Amas passou a ter o metro quadrado mais caro do recôncavo. Na parte social, a inclusão da cidade no programa Minha Casa, Minha Vida, garantiu casa própria para 208 famílias. Além disso, a própria prefeitura construiu mais 70 casas no Loteamento da Embira e outras 50 na zona rural do município.

Esporte
Na área de esportes, o projeto social Construindo o Futuro Através do Esporte, beneficiou centenas de crianças e adolescentes e revelou talentos que levaram o time da cidade, o Cruzeiro, a subir para a segunda divisão do campeonato baiano. O cruzeiro teve seu drama contado na primeira edição da Revista Reconvexo.
Saúde
Na saúde, as coisas não avançaram tão bem quantos nos outros quesitos citados anteriormente. A Santa Casa de Misericórdia, transformada em 2005 em hospital de referência, sofre com graves crises financeiras e a iminente ameaça de fechamento. Em 2011, Cruz das Almas perdeu a unidade referência em tratamento de queimados para o recém-inaugurado Hospital Regional de Santo Antonio de Jesus. Em fevereiro deste ano, voltou a ter destaque negativo quando o Índice de Desempenho do Sistema Único de Saúde (IDSUS) atribuiu nota 4,8 ao atendimento do SUS na cidade, ficando abaixo da média nacional 5,8 e sendo eleito o pior do recôncavo.
Emprego
Quando o assunto é emprego, surge outra contradição. Em 2009, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) apontou Cruz das Almas como a segunda cidade baiana que mais gerava empregos, atrás apenas de Salvador. Em três meses, daquele ano, a cidade criou quase 1.200 novos postos de trabalho. Principalmente nos setores de indústria de transformação, construção civil, comércio, serviços e agricultura.
Mas, os números retrocederam e em 2012 ganharam um agravante. O projeto do governo federal Convenção Quadros para o Controle do Tabaco que tenta diminuir o consumo do tabaco no país levou armazéns de fumo e fábricas de charuto ao fechamento, fazendo com que mais de 10 mil trabalhadores da produção fumageira, simplesmente, perdessem seus empregos.

Sucessão Municipal
Mesmo com os altos e baixos da administração, o apoio do prefeito nas próximas eleições é disputado pelos pré-candidatos. Mas, Orlandinho já escolheu apoiar o atual vice-prefeito, Valtércio Queiroz (PT). Também despontam na corrida pré-eleitoral, os médicos, Dr. Raimundo Jean (PMDB) e Dr. Fernando (PV), o empresário Ednaldo Ribeiro (PTC), seu irmão, Edson Ribeiro (DEM) e os vereadores André Eloy (PMDB), Max Passos (PSDB) e Osvaldo da Paz (PT). Outros nomes, ainda seguem a disposição dos partidos para eventuais candidaturas como Jorge Andrade (PSB), Mário do Jornal (PTB) e Paulo Freire (PCdoB).

*publicado originalmente na Revista Reconvexo #2, em maio de 2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário