Luz, câmera, Recôncavo!


Curso de cinema e audiovisual da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), em Cachoeira pode transformar o recôncavo em um polo nacional de cinema. Mas, quem vive da sétima arte na região aponta que barreiras ainda precisam ser ultrapassadas para se alcançar tal objetivo.
 Muita gente não sabe, mas antes mesmo da chegada da UFRB em Cachoeira, já tinha gente fazendo cinema no recôncavo. O santoantoniense Tau Tourinho e a sua trupe do movimento NOVOCINEMANOVO são o melhor exemplo disso. Quando virou aluno do curso da UFRB, há cerca de um ano, Tau Já tinha experiência no mundo do cinema alternativo brasileiro, e por isso dá dicas aos colegas: “Eu acho que fazer cinema no interior dá. Agora, tem que ser assim, pedindo uma ajuda aqui, uma coisa ali. Sem essas permutas com nossos amigos que são empresários, fica difícil.” Tau brinca com a própria sorte e revela que dentro do movimento a ideia é: “Sempre fazer filmes com o orçamento menor do que um churrasco de fim de semana.” Com essa proposta traçada, o grupo que, além de Tau, é formado por Gabriel Lopes Pontes, Lucas Virgolino e alguns outros colaboradores já experimentam o sucesso nacional com filmes gravados inteiramente no recôncavo, como “Má Vida” (2006), “Incarcânu a Tiortina” (2008) e o recém-lançado, “A Jega Recebedeira” (2012).

Um dos expoentes da nova geração de cineastas que vem sendo formada pela UFRB é o Feirense, Leon Sampaio. Para ele, a maior dificuldade em fazer cinema na região é a falta de estrutura. “Não existe um bom curso de teatro na cidade, com atores que a gente possa escalar para qualquer tipo de trabalho”. Leon também considera difícil viver apenas de cinema no país: “Hoje, viver de cinema no Brasil, é coisa para Rio ou São Paulo. Mas, os polos estão surgindo, Hoje já tem gente fazendo cinema em Paulínia (SP), em Fortaleza. Mas, é assim, se jogando em edital, fazendo parte de coletivos, de movimentos, se jogando mesmo.”
Leon também já teve a experiência de gravar um curta inteiramente no recôncavo. “A Eternidade” (2010), premiado no Festival de Cinema Universitário da Bahia e no Salão de Artes Audiovisuais do Recôncavo, foi locado nas cidades de Cachoeira e São Félix. Ele ainda comenta que não faz filmes para o mercado: “A gente hoje vê muito filme que não tem um engajamento, que não tem crítica nenhuma, e tem a maior divulgação, então eu sigo outra linha.” Para estimular os alunos e dar maior visibilidade ao trabalhos produzidos, o próprio curso organiza atualmente uma série de eventos como o BAFF (Bahia Afro Film Festival), o Cachoeira Doc e o Vídeo Índio Brasil. Mas, Leon afirma que o curso tem se tornado conhecido também graças a internet: “O trabalho que o pessoal do “As Cachoeiranas”1 fez, por exemplo, apesar de ser de uma linha totalmente diferente da minha. Foi muito divulgado e essas coisas que fazem o curso ficar conhecido.”

1 - “As Cachoeiranas” foi uma web série produzida em 2011 por alunos do curso de cinema da UFRB, como uma paródia ao seriado global “As Cariocas”. A cada semana um novo episódio era publicado no You Tube e divulgado nas redes sociais. Em 2012, o mesmo grupo de alunos criou a continuação “As Baianas”, que parodia “As Brasileiras”, a continuação do original, produzida pela emissora carioca.

*publicado originalmente na Revista Reconvexo #2, em maio de 2012.

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