Antonio já segurava a maçaneta com uma de suas mãos, mas antes que pudesse abrir a porta, ocorreu-lhe uma súbita ideia. Antonio de fato, não sabia o que podia encontrar dentro daquele quarto. Que surpresas poderiam esperar por ele atrás daquela porta que mais lhe parecia um obstáculo intransponível. Por um instante esquecera a razão, e usou seu coração para embarcar naquela viagem entre os seus pensamentos. Quando pode retomar a consciência, já estava encurvado fitando Tereza por trás daquela fechadura.
Tereza entretida com seu bordado era talvez a mais bela visão e, se não, a mais bela sensação que Antonio já pudera ter experimentado em toda a sua vida. Resolvera ficar ali uns cinco, dez minutos mais, imaginando como seria adentrar naquele cômodo e ter Tereza em seus braços, tocá-la e enfim declarar o seu amor sem fim. Chegara a ficar até mais do que quinze minutos pensando como seria bom levá-la para passear no parque, á beira do lago, roubar um daqueles pedalinhos e levar a amada para onde os olhos curiosos das pessoas não pudessem vê-los e então fazê-la saber de todo o seu amor. Ficou pensando também como seria bom estarem no jardim botânico, e como haveria de ser divertido estarem no zoológico qualquer Domingo desses.
Mas, e que pensariam os outros? Antonio nem se incomodara. Porém lhe veio à súbita de lembrança de Cazé. Que poderia pensar o seu amigo de longa data ao saber que ele, Antonio, fora toda a vida apaixonado por sua esposa? Que ele suspirava pelos cantos e que se recusava a conhecer outras mulheres apenas para cultivar a esperança de um dia ter a bela Tereza em seus braços. Passou, então a sentir-se o pior sujeito do mundo tão apaixonado pela esposa do melhor amigo, que já estava a quase uma hora, observando-a por um buraco de fechadura. Piorou, quando passou a ter em seus pensamentos a visão da reação de Tereza. Que poderia pensar ela, ao descobrir que o melhor amigo do seu marido, tinha amores por ela e que a desejava todas as noites?
Antonio era agora, para si mesmo o mais sórdido dos cafajestes, já não se cabia de tanto desgosto, quando um grande susto o acometeu. Era um barulho que vinha não daquele quarto, nem daquele corredor, tampouco daquelas escadas que ele subira vagarosamente. Aquele ruído que aos seus ouvidos, suava assustadoramente, só poderia de ser Cazé, entrando em casa.
Olhou rapidamente, mais uma vez, pelo buraco da fechadura, e pode ver a figura de Tereza, agora já de pé, vindo em direção a porta, preparando-se para sair do quarto. Ficou atônito, não sabia o que fazer, ficara desesperado somente ao imaginar que dentro de instantes seria descoberto, não só por Tereza, mas também por Cazé. O que aconteceria? Cazé certamente o mataria e mataria ainda a Tereza, desconfiando de uma possível traição, e ainda os enterraria ali mesmo no quintal, um pouco abaixo da janela daquele quarto. Mesmo que Cazé não o matasse, Tereza certamente jamais olharia novamente em seus olhos e nunca mais iria se quer dirigir-lhe a palavra.
Já não tinha mais o que fazer, dentro de segundos seria descoberto. Resolvera voltar alguns passos para trás no corredor inutilmente, já que esconder-se seria impossível. Começara a ouvir então os passos de Cazé pelas escadas, degrau pós degrau, e o som da maçaneta da porta que Tereza abria. Virou-se para as escadarias a espera daquele que estava prestes a tornar-se seu desafeto. Porém, ouviu primeiro a voz da doce e bela Tereza:
- Antonio? Pensei ser Cazé... Que houve? Que fazes aqui?
Antes que pudesse se virar, ouviu agora a voz perplexa de Cazé.
- Antonio? Tereza? Mas, o que significa isso?
Antonio não sabia o que dizer, Cazé não se conformava com o que via e Tereza não estava entendendo nada, o que aconteceria agora?
Continua ...

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