Ataliba solta o verbo

Sílvio Santana, O Ataliba (PT-BA) é prefeito da cidade de Maragojipe. Homem de língua afiada, ele abriu o jogo nesta entrevista realizada em julho de 2009.


ES: Ataliba como é ser prefeito de uma cidade como Maragojipe?

ATALIBA: Primeiro vamos quebrar esse paradigma da burocracia da gestão. Eu digo toda hora é muito gostoso fazer gestão e muito complicado. Primeiro porque pegamos o município sem credibilidade econômica. Sem moral pelo que aconteceu aqui. Os desmandos que houve no município. A degradação do valor da família. Implementaram aqui em Maragojipe uma política de esvaziamento de valor e você quebrar um circulo de sete famílias governando um município em quase 150 anos. Trazer práticas administrativas diferenciadas, isso é um choque. Mesmo com a comunidade tendo votado em você. Ainda acreditam no “favorzinho”, na receita, no cimento, essa coisa toda. E pra você quebrar isso, e depois outro elemento que na minha concepção é o mais importante que é você trazer o povo da periferia pra fazer gestão. Não excluindo quem está no centro mas, misturar essas cartas. Hoje eu me orgulho muito. 

ES: E o que mudou na vida dos Maragojipanos?
ATALIBA: A gente conseguiu implementar um ritmo de gestão aqui em Maragogipe e os frutos a gente percebe em cada canto e eu não tenho problema de fila em minha porta. Secretário nenhum tem esse problema. As pessoas estão aí pra fazer crítica e é importante você construir essa massa crítica no município. A gente pega um município com 32% de analfabetismo e reduz pra 12%, 13% em quatro anos. Você pega um professor que ganhava um salário mínimo mais um abono de 20% e hoje tem o maior piso da região do recôncavo discutido com eles, e não é maior justamente pelos embaraços da gestão publica que é o orçamento. Que é a capacidade de no próximo ano você dar um nível percentual de aumento. A questão do aumento no limite com o pessoal que é de 50%. 

ES: E os salários estão em dia?
ATALIBA: Hoje, Ataliba paga o salário em dia. Tudo bem o salário ele aquece a economia do município mas, isso é uma garantia constitucional. Não é um favor da gestão do Ataliba ou da gestão anterior. A gente venceu essa batalha. Esse espaço já foi garantido, consolidado e agora precisa transformar essa gestão em eficiente. A gente precisa tomar consciência de que os 1,7 mil servidores da prefeitura são pagos pela arrecadação de cada um dos 42 mil maragojipanos e outros que não são maragojipanos, mas acabam recolhendo seus impostos aqui e a gente precisa transformar isso em um serviço de qualidade. Sem essa “peste” aqui colocada de que servidor publico não gosta de trabalhar. 

ES: E como está o atendimento ao cidadão na prefeitura?
ATALIBA: O grande desafio nosso é esse, e eu tenho certeza que tenho conseguido fazer isso. Mas, a gente precisa ser muito mais eficiente pra entrar na prefeitura e saber que você vai ter um atendimento de qualidade como se estivesse num shopping center e o cidadão quer lhe vender alguma coisa e usa de todos os argumentos pra te convencer. Então, quem está na gestão publica tem que entender isso. O cidadão lá é um contribuinte e se torna cliente nosso e precisamos oferecer um serviço de qualidade. 

ES: Sobre a participação da periferia e do centro na gestão. Como está sendo executado o orçamento participativo em Maragojipe? 
ATALIBA: Faz três anos que a gente utiliza o orçamento participativo. Estamos no quarto ano agora. Mas, eu acho que é uma ferramenta que já está obsoleta e precisa avançar muito mais. Nós temos saldo em caixa. Mas, a lei de responsabilidade fiscal diz que eu não posso mexer naquele dinheiro. É uma verba carimbada. Então assim, a população está mais esclarecida porque também os instrumentos de fiscalização foram constituídos até por conta de concepções administrativas do país, do estado. Hoje a maioria dos gestores, não tem mais necessidade de andar com um talão de vales em baixo do braço. Ainda tem, mas você percebe que diminuiu muito. O poder de fiscalização aumentou. Eu acho que o governo federal, através do Tribunal de Contas da União (TCU), monta esses mecanismos de não só ser punitivo, mas ser prepositivo. Você tem uma área no TCU que é punitiva que é fiscalizadora. Mas, também tem um braço que é prepositivo, está propondo mecanismos da gestão publica para que você evite cometer algum ato ilícito. 

ES: E as tais contas rejeitadas?
ATALIBA: Eu tive mesmo conta rejeitada pelo tribunal de contas do município. E debato aqui sempre. Eu estou no mesmo roll do cara que meteu a mão nos R$36 mil da igreja católica? Do cara que pegou o dinheiro da merenda escolar e depositou na conta do filho? Porque o meu contador foi lá e contabilizou o meu pessoal de saúde e educação no desenvolvimento econômico. Então os percentuais nossos de 15% e 25% não foram alcançados. Nós tivemos a conta rejeitada porque nós alcançamos 24.39% na educação e 14.68% na saúde. Mas, eu to no mesmo roll do cara. Então, assim tem discutido com a comunidade. Porque a comunidade precisa saber e entender. Porque quem faz o julgamento de nossas contas são pessoas que estão dentro de um ar condicionado. Não conhecem a realidade do município. Do cara, que a mãe morreu e que o corpo ta lá e que a família não tem R$250, exatamente para comprar um caixão. Que ele não sabe que o ônibus é velho. Que o ônibus quebrou e você tem que substituir e não está no processo licitatório. O problema na mão do prefeito é imediato. Você não sabe nem o nome da pessoa que morreu, mas você sabe que precisa ajudar. Aí no dia que a pessoa morre o atestado de óbito ainda não está pronto. Mas, você tem que enterrar em 24h. Aí depois que você enterra você tem que ter o laudo de que a pessoa é pobre. O atestado de óbito, carteira de identidade não sei o que... Aí é uma loucura. E quando você consegue isso, 60 dias depois você já apresentou ao tribunal de contas. 

ES: Prefeito deixe uma mensagem para o nosso blog: 
ATALIBA: Se você investe R$100 mil em comunicação, você está abrindo a possibilidade da comunidade estar sabendo. Antes eu podia usar R$10 mil pra pavimentar uma rua. Mas, só pavimentar rua não adianta. Você tem que ter uma comunicação boa. E a comunicação na Bahia hoje, está defasada porque nesse padrão que está aí, o prefeito só é valorizado quando coloca R$20 mil ou R$30 mil num programa de TV. E se você não coloca R$10 mil, R$15 mil você apanha e muito. Eu disse na Record: “Eu apanhei de 14 irmãos, não tenho medo de apanhar de Casemiro, de Bocão, ou do rapaz que bate na mesa.” Então pra não ficar dando cor à imprensa. Ficar falando que a imprensa é marrom. Eu acho que é bom a juventude estar vindo pra esse lado, porque a comunicação é o quarto poder.

Foto: Welington Alves

Um comentário:

  1. OOw Di... lembra de mim?
    Achei seu blog...
    Bacana este trabalho viu!!
    =)

    Gostei da reportagem... E nesse tempo eleitoral esclarece muita coisa pra comunidade...

    Estou chegando...
    Ah e não esquece de aparecer no Café.
    www.cafezinhododia.blogspot.com

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