Palavras de Alto Calibre

Sou frio, prateado, não meço mais que dez centímetros, peso pouco mais de um quilo, mas, minhas características não importam. O que importa é que eu tenho um sonho. Sonho esse, que sei, jamais vou realizar porque sou carregado de simbologia.

Queria fazer o bem, queria servir ao bem. Mas, como? Se aonde vou, sou forçado a fazer exatamente o contrário? Se sou munido de balas que me recheiam, mas que não me alimentam. Que me completam, mas não dizem quem eu sou. Balas que não sabem das minhas vontades, que ameaçam, que tiram vidas.  Ainda antes de ter meu gatilho apertado por dedos inconsequentes, de voltar a sentir o gosto amargo da pólvora na minha culatra, de ter desferido o tiro, cumprindo assim minha função vital, posso ver rostos assustados, que me olham com medo, perplexos com a violência que eu causo, posso sentir as mãos trêmulas e tensas, o suor frio a escorrer e o pulsar ligeiro que denunciam o nervosismo ou a frieza de quem me porta.

Logo eu que não gostaria de ser assim, que não gostaria de ser isso que me tornei. Meu tiro é também um grito de dor que rasga o meu peito, tanto quanto o peito da vítima que eu acabei de criar. A verdade é que todas as vezes que mato também morro.

Então, como posso ser feliz se só vejo dor e tristeza no ato que me designa dos outros objetos? Como posso estar bem e ter paz se toda vez que vejo um rosto amedrontado clamar pela vida enxergo e causo a morte?

Pode ser que quem leia essas palavras, talvez não acredite em mim, ou nas minhas reais intenções, mas eu queria ser inutilizado, derretido, transformado. Fazer assim, parte de um novo objeto, ter uma nova função, novos objetivos. Quem sabe ser misturada a outros elementos para um dia ter o prazer de cobrir o peito do herói de uma nação qualquer? Eu queria...

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